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PHILIPPE BECK
( FRANÇA )
Philippe Beck é um poeta, escritor e professor francês de Filosofia na Universidade de Nantes, na França, e na European Graduate School em Saas-Fee, na Suíça.
INIMIGO RUMOR – revista de poesia. Número 16 – 1º SEMESTRE 2004. Editores: Carlito Azevedo, Augusto Massi. Rio de Janeiro, RJ: Viveiros de Castro Editora, 2004. 176 p.
ISSN 1415-9767. Ex. biblioteca de Antonio Miranda
Tradução de CARLITO AZEVEDO:
A MATÉRIA, I
À Björk
A matéri é toda resistência;
eis porque
os seres nãos se confundem.
A andorinha não é cisne.
Os cabritos de patas trêmulas
não podem rivalizar com cavalo
robusto.
As abelhas tentam os prados.
Os muros não caem
de uma vez. Ou não caem.
(Proust resiste a Gide.)
Prados não são sacudidos
pelos ventos;
nem aspergidos de chuva
nem resfriados cobertos de neve.
As pessoas se dedicam de boa vontade
à natureza
pois, com bons meninos,
tiveram medo de seu pai
e buscaram abrigo
na mãe.
Sem brincar de “esconde-esconde”.
A floresta é possivelmente poética,
muito mais que o resto.
Ela não é particularmente
poética
mesmo quando é bela.
A calma e a sombra
podem ajudar
a chegar ao fim
de um texto.
A floresta habita inúmeros
poemas,
e é por isso
que muitas
pessoas sem espessura
pensam que é preciso adorá-la,
prestar atenção nela
como a um poema recente.
Pouco importa se ali tomamos notas,
fazendo caretas ou desenrugando a fronte;
nada é belo por antecipação.
Pode-se dizer
que um escritor
é o gênio de seus materiais,
de seus personagens.
Todo livro forte
apresenta um gênio
retraído.
(Vide O rascunho geral, fragmento
432
riscado erradamente também
por de la Friche ou Novalis.)
Os humanos progridem
na sucessão
por quick, quick, slow
como o olho vagabundo
e puro, luminoso, sensível,
fundamental
(chamam-no Público
ou as pessoas)
que dá razão
à extensão
da biblioteca,
e razão aos circuitos
que ela inaugura.
E todos os circuitos
na biblioteca
são caminhos
para buscar
uma luz
sem que o desprazer ao menos
desaparece.
(Addentrum:
à Walter Benjamin
Um tostão de entrada
desliza num grande
espaço corporal,
ou uma multidão reunida.
Se a imagem do corpo em conjunto
é um blefe,
então a iluminação profana
ocorrerá como
o truque do prestidigitador.
Esperamos por confissões eruditas
para gerar
as imagens ainda possíveis na época.
Expressões coletivas
podem caracterizá-las.
Jamais o sentimento da obrigação
em relação à Cultura Desqualificada,
que experimenta o expert,
excitará tais confissões.
Há uma inspiração
no ato mais baixo.
É preciso resgatá-la. Expô-la.
Leitura é uma operação telepática
se o pensamento é um narcótico poderoso
de telas vivas, tombáveis;
e Leitura sente
no bom recuo perspectivo
quanto
a organização do pessimismo
é o inimigo difícil
do otimismo material.
E a interrupção da carreira artística
pela matéria
deve forçar o artista
a sugerir a mais de um
o que é um dínamo Um —
a essência de alguém.)
*
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Página publicada em dezembro de 2023
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